Lançado em 2009 pela Nihon Falcom Corporation com exclusividade na Playstation Portable, Ys SEVEN marca a primeira aventura de Adol pelas terras de Altago, assim como um triunfante retorno desta pouco conhecida - mas bem recomendada - série ao ocidente. Localizado pela XSEED, Ys SEVEN é um action-RPG com uma receita simples, mas bastante eficaz, que está disposto a mostrar aos fãs ocidentais tudo aquilo que têm vindo a perder ao longo das mais de duas décadas de existência da série.
Para aqueles que não estão familiarizados com a série, vale a pequena lição de história. Criada originalmente em 1987 para o PC-8801, um dos vários tipos de computadores da NEC exclusivos ao território japonês, Ys segue os passos do protagonista Adol Christin, um espadachim ruivo conhecido tradicionalmente por sua grande paixão por aventuras. Nos moldes de outro popular nome, The Legend of Zelda, as histórias da série permitem aos jogadores começar a partir de qualquer jogo da mesma, pois embora existam referências a acontecimentos passados, eles não são, por hábito, fundamentais para a compreensão das narrativas, servindo simplesmente como curiosidades destinadas aos fãs mais atentos.
Por outro lado, diferentemente da série da Nintendo, em que existem várias reincarnações do mesmo herói em tempos diferentes, a Falcom optou por uma abordagem diferente e criativa -- Adol é sempre o mesmo, e as histórias que são mostradas por meio dos jogos dão ao jogador a oportunidade de reviver várias das aventuras que foram registadas pelo herói ao longo da sua vida. Isso confere uma certa legitimidade ao legado da personagem, e torna fácil perceber o porquê dele ser reverenciado como um grande aventureiro, uma vez que os próprios jogadores que o acompanharam ao longo dos anos tiveram a oportunidade de ver, inúmeras vezes, como é que as suas acções ajudaram a salvar várias vidas e localidades.
Os cinco grande dragões
Acabados de chegar em mais uma terra desconhecida, Adol e o seu amigo Dogi rapidamente se encontram numa situação complicada. Após ser consultado por uma misteriosa voz, que se identifica como um dos "Grandes Dragões de Altago", Adol descobre que o continente de Altago está a sofrer com vários tipos de anomalias. A sua fome por aventuras o leva a investigar as razões destes desastres, e, como de costume, o herói ruivo prontamente é incumbido de salvar a terra e restaurar a paz no mundo.
A história não é particularmente original, e para aqueles jogadores que dão máxima prioridade a tramas complexas, cheias de reviravoltas a todo instante, este título certamente não tem o suficiente para os impressionar. Porém, é na simplicidade que Ys SEVEN encontra o seu próprio charme. Por mais cliché que a narrativa possa parecer, a execução é, desde o início, muito bem feita, e a sensação que se tem é de que estamos a desbravar mais uma daquelas aventuras icónicas da era 16-bit, em que os romances e enormes dramas pessoais eram deixados de lado, em prol daquele aconchegante sentimento de aventura, com um fim em si mesmo. Não há necessidade de um passado triste para motivar o herói, ele simplesmente tem isso no seu ADN e está pronto para provar, mais uma vez, que não é qualquer monstro ou entidade maligna que consegue levar abaixo o grande "Adol, The Red"!
Golems a cuspir fogo e martelos gigantes, uma óptima combinação.
Aventureiro solitário? Não mais!
Se em termos de história Ys SEVEN não trouxe muitas mudanças ao que já é habitual da série, a Falcom fez questão de compensar na jogabilidade. Embora o combate ainda seja um misto de acção rápida e frenética, com controlos que relembram jogos mais "hack and slash-y", a nova engine, feita de raiz para a estreia na PSP, introduz um inédito sistema de party à série, onde o jogador pode ter até três personagens activas ao mesmo tempo. Além de Adol, única personagem obrigatória em todos os momentos do jogo, é dada a opção de se escolher dois parceiros para o auxiliar durante a acção. O jogador tem controlo total sobre uma personagem, enquanto que as outras duas são controladas pela AI. No entanto, ao pressionar o botão círculo, é possível alternar entre elas rapidamente, o que se torna bastante útil, já que cada personagem possui aptidão para um tipo de arma, que podem ser mais ou menos efectivas contra certos tipos de inimigos.
A complementar estas mudanças, Ys SEVEN também traz o mais robusto sistema de skills presente na série até à data. As quatro magias elementais que marcaram presença nos últimos três jogos da série foram substituídas por skills únicas de cada personagem. Cada arma equipada possui a sua própria skill, que pode ser mapeada para até quatro botões diferentes. Estas habilidades, inicialmente, estão presas à arma que temos equipada e vêm a nível 0, mas conforme são utilizadas, a personagem aumenta a sua proficiência com as mesmas, até que passa a poder utilizá-las com qualquer arma que tenha em si. Níveis mais elevados de cada skill conferem às mesmas novas animações e, em alguns casos, até utilidades diferentes. Isto adiciona à longevidade do título, pois os jogadores mais 'hardcore' irão, certamente, perder algum tempo a subir as suas skills simplesmente para ver que tipo de novas funções podem obter.
Vê lá onde enfias essa língua radioactiva, aranha!
Além disso, cada personagem possui também a sua própria EX SKILL, que funciona basicamente como uma espécie de "super ataque". Ao contrário das skills normais, que podem ser usadas sucessivamente desde que a personagem ainda tenha SP disponível, as EX Skills são regidas por uma barrinha amarela chamada de EXTRA Gauge, que se regenera automaticamente com o passar do tempo. No entanto, os jogadores podem enchê-la mais rapidamente ao utilizar certos itens e, também, ao conseguir 'bloquear' os ataques dos inimigos com o 'Flash Guard'. Uma vez completa, basta pressionar L para lançar o ataque mais forte da personagem activa no momento.
Por fim, a última relevante adição ao sistema é a sintetização de itens. Sempre que um monstro é derrotado, além dos já tradicionais pontos de experiência e dinheiro, ele poderá deixar, também, todo o tipo de materiais. Estes, ao serem levados aos vários comerciantes espalhados por Altago, podem ser utilizados para sintetizar novos tipos de equipamentos, muitos deles exclusivos a este sistema. Como o jogo não torna a busca pelos materiais frustrantes, sendo até bastante generoso com os requisitos para a grande maioria, na prática tudo funciona bastante bem, e acaba por providenciar mais uma alternativa para manter o interesse dos jogadores, já que além de mais baratas, as armas e armaduras sintetizadas podem trazer habilidades únicas, impossíveis de serem arranjadas com equipamento comprado com dinheiro "normal".
Gráficos e Hair Metal
As limitações da PSP "forçaram" uma mudança visual à série. Os belos sprites 2D utilizados nos últimos jogos foram descartados e deram lugar aos modelos em 3D para as personagens. Embora não consigam reter a mesma beleza dos sprites, é igualmente verdade que existem lados positivos nesta troca. Um deles, por exemplo, é que praticamente todas as armas e escudos utilizados têm o seu próprio modelo, e sempre que algo novo é equipado podemos ver as mudanças estéticas que proporcionam às personagens. Um detalhe, é certo, mas algo que é muito mais fácil de ser realizado com o 3D, uma vez que criar sprites 2D para mais de cinquenta armas seria muito mais trabalhoso.
Os cenários, por sua vez, continuam em três dimensões, e a Falcom fez um bom trabalho ao conseguir dar uma característica própria a cada um dos lugares visitados durante a aventura. Por mais que temas como "floresta", "deserto", "vulcões" etc. estejam presentes, em geral os ambientes são variados o suficiente para dar aquela sensação de constante mudança, assim como de real progresso na aventura.
Belas paisagens ajudam a criar um sentido de progressão contínuo durante a aventura.
Em geral, o visual é agradável e o estilo anime utilizado para os retratos das personagens assenta bem ao jogo. A acção também é bastante fluída, e não há nenhum momento com slowdowns, o que acaba sempre por ser um ponto positivo num jogo com um pacing tão rápido.
Já em termos musicais, Ys Seven dá continuidade a uma tradição de mais de duas décadas. Muitos compositores já passaram pela Falcom e, com a excepção de Ys V, todos os jogos da série são conhecidos por suas fantásticas bandas sonoras. Numa época em que a música dos videojogos fica cada vez mais parecida às grandes composições feitas para a indústria cinematográfica, é sempre bom ver que, lá pelo Japão, ainda há boa gente interessada em produzir aquele tipo de melodia que, generalizando um pouco, marcou época durante a era 8-bit e 16-bit e realmente deu origem ao termo "videogame music", com batidas rápidas e ritmos bastante próprios. A diferença é que, em 2009, os beeps e blops transformaram-se em sintetizadores tecnicamente mais impressionantes, e o que temos é uma OST fantástica, com temas que misturam guitarras, baixos e violinos de forma soberba.
Conclusão
Com muitos acertos e pouquíssimos erros, Ys SEVEN é uma das mais interessantes pedidas em termos de jogos de acção/RPG no mercado. Embora tenha suas limitações em termos de originalidade da narrativa e progressão da mesma, a série compensa estas "falhas" ao manter-se fiel àquilo que sempre soube fazer muito bem: sistema de combate frenético e extremamente viciante, batalhas contra bosses incrivelmente desafiantes e, é claro, a tradicional banda sonora regida ao som das guitarradas da sempre fantástica Falcom JDK Band. Se a ideia de matar dragões gigantescos enquanto fazes headbang parece apelativa, não tenho muito mais a dizer -- joguem isto e dificilmente vão acabar desapontados!
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